domingo, 8 de julho de 2012

PROFETAS E PROFECIAS

(fonte: http://www.vivos.com.br/169.htm)


1- Profecia e Profeta:

A palavra profecia (oráculo)
:

 em Pv 30.1 segundo algumas versões, representa a palavra hebraica massa, que propriamente significa “oráculo”; e o nome profeta, em Is 30.10, representa a palavra hebraica chozeh, que propriamente significa “vidente”, e refere-se àqueles que vêem visões. Mas sempre, em qualquer outro lugar no A.T., a “profe­cia” é a tradução de nebu’a; e “profeta” a de nabi. Não é certa a significação original da raiz (NB). A raiz (NB) significa ferver em cachão, e nabi, portanto, supõe-se querer dizer aquele que ferve com a inspiração ou com a mensagem divina. Todavia, é mais provável que nabi esteja em conexão com uma raiz assíria ou árabe, que significa proferir, anunciar uma mensagem. Neste caso o nabi é considerado o orador, a quem foi confiada uma missão. Isto está em conformidade como que se lê em Ëx 7.1: “Então disse o Senhor a Moisés: Vê que te constituí como deus sobre Faraó, e Arão, teu irmão, será teu profeta.” Por isso é provável que o nome “profeta”, como é empregado na Bíblia, signifique aquele que fala como acreditado mensageiro do Altíssimo Deus. Deve-se observar que no termo, de que se trata, não há coisa alguma que implique previsão de acontecimentos. Pode um profeta predizer, ou não, o futuro segundo a mensagem que Deus lhe der. Deste modo a palavra grega prophetes, que se acha na versão dos Setenta, e no N.T., significa aquele que “expõe, fala sobre certo assunto”. Os substantivos abstratos nebu’a e propheteie (“profecia”) têm uma significação correspondente.

2- O estado dos profetas ao receberem a sua mensagem.

E importantíssima ter uma noção certa das condições espirituais do profeta, afim de que possamos penetrar os segredos da comunicação do homem com Deus. A concepção pagã da profecia era a de uma condição absolutamente passiva no profeta, de modo que, quanto mais inconsciente se mostrava, mais apto estava para receber a mensagem divina. Alguma coisa deste gênero se pode ver na histeria do povo israelita. Aquelas danças sagradas dos profetas de Baal, durante as quais eles batiam em si furiosamente, cortando-se com canivetes, para que pudessem receber um sinal visível de aprovação divina, eram, na realidade, uma manifestação típica (1 Rs 18.26 a 28); e é provável que em tempos posteriores os falsos profetas tomassem disposições semelhantes, com o fim de provocarem em si próprios o estado de êxtase para as suas arengas. Mas a idéia pagã de profecia se apresenta dum modo muito claro em Balaão. A sua vontade e os seus próprios pensamentos são vencidos pela inspiração divina, proclamando ele a mensagem celestial, contrariamente aos seus particulares desejos (Nm 22 a 24).

No tempo de Samuel já se vê o principio de melhor sistema. Ele reunia em comunidades aqueles que parecia terem dons especiais da profecia, disciplinando-os, ensinando-lhes a música, e, segundo parece, ministrando-lhes conhecimentos da história e religião, para que pudessem estar nas melhores condições de receber as palavras de Deus (1 Sm 10.10 a 13; 19.18 a 20). A respeito da música pode-se compreender que era para aquietar a alma, e prepará-la para as comunicações com Deus (1 Sm 16. 14 a 23; 2 Rs 3.15). Quanto a serem estas escritas ou não pelo profeta, isso dependia do caráter particular de cada alocução.

Essas profecias, devemos dizê-lo, são inteiramente apostas ás produzidas no estado de mero êxtase. São escritas com grande escolha de palavras e frases, revelando a vida anterior dos profetas, os seus interesses e ocupações, e apresentando em vários graus a cultura e as circunstâncias do tempo em que cada profecia foi revelada. As profecias de Amós. de Miquéias, de Isaias, e de Jeremias, por exemplo, estão muito longe das de Balaão, tanto na visão espiritual como nos conscientes pensamentos e deliberado estudo. Os profetas tinham aprendido que Deus Se servia das próprias faculdades e aptidões deles como instrumento das Suas revelações.

Na verdade, querendo formar a mais alta concepção do estado do profeta, na recepção das comunicações divinas, temos esse ideal em Jesus Cristo, que estava em comunhão com o Seu Pai, e anunciava aos homens o que dele ouvia (Jo 8.26 a 40; 15.15; 17.8). Em Jesus não havia o estado de êxtase, mas manifestava-se uma clara comunicação espiritual, tendo a Sua alma um grandioso poder receptivo e ativo. Na proporção em que os profetas alcançavam este dom maravilhoso de profecia, podiam eles receber e transmitir perfeitamente a mensagem divina.

3- A função dos profetas.

Examinando as suas palavras num sentido mais lato, e tomando no seu todo a obra dos profetas, observamos que uma das suas mais importantes funções era a interpretação dos fatos passados e presentes. Estudando eles os acontecimentos na presença de Deus, puderam vê-los na sua luz divina, e compreendê-los assim no seu verdadeiro as­pecto e significação. Por isso os profetas não eram, realmente, historiadores (como o escritor dos livros dos Reis), mas foram algumas vezes políticos ativos bem como diretores religiosos. Entre estes podemos admitir não somente Isaias e Jeremias, mas também Eliseu, visto como este mandou um dos filhos dos pro­etas ungir Jeú. efetuando deste modo a destruição da dinastia de Onri, culpada de prestar culto a Baal (2 Rs 9). Além disso, o fato de eles perceberem a significação dos acontecimentos passados e presentes, habilitava-os a conhecer os resultados da vida pessoal e nacional, e a proclamar princípios que tinham um alcance muito mais largo, de muito maior extensão, do que o que eles podiam imaginar. E, deste modo, quando as mesmas forças operavam em tempos e lugares muitíssimo distantes dos contemplados pelos próprios profetas, as suas palavras de aviso e conforto achavam cumprimento, não talvez uma vez somente, mas em diversas ocasiões. E a este poder, inerente a uma previsão verdadeiramente inspirada, que São Pedro provavelmente se refere, quando escreveu (2 Pe 1.20): “nenhuma profecia da Escritura é de particular elucidação”, querendo dizer que o seu significado e referência não devem limitar-se a qualquer acontecimento no tempo.

4- O valor das profecias:  

a) Os sacerdotes tratavam de coisas rituais, ou melhor, das ora­ções litúrgicas e dos cânticos sagrados. Nos profetas havia vistas mais largas, e uma realização mais completa da vontade de Deus na vida diária, tanto particular como nacional. Se quisermos, talvez, dizer em poucas palavras qual o efeito dos ensinamentos dos profetas sobre os seus contemporâneos, quer se trate de pessoas, quer de nações, afirmaremos que eras esperança o forte sentimento que consolava a alma israelita, apesar dum passado manchado pelo pecado, e dum presente sob a ameaça do castigo. Todavia, superior a tudo, estava Deus realizando o Seu plano de misericórdia e bênçãos. Nenhuma religião, fora do Judaísmo, podia mostrar nos seus ensinamentos tais princípios de consoladora expectativa. E eis aqui um dos grandes segredos que explicam o grande êxito que só a religião de Israel alcançou.

b) Se os contemporâneos dos profetas muito ganharam, ou estiveram na situação de ganhar com a obra dos profetas, maior proveito disso devemos nos ainda tirar. Porquanto estamos agora preparados para ver bem o efeito das suas doutrinas e predições, e considerar as verdades eternas, em que eles depositavam completa confiança. Dum modo particular, certamente, podemos apreciar até certo grau as suas exposições acerca do grande Personagem, por meio do qual havia de vir a redenção de Israel. Não é o nosso fim neste artigo enumerar as várias profecias com relação a Cristo. A maioria delas é bem conhecida. Basta dizer-se que, embora os profetas não alcançassem bem o inteiro sentido das suas próprias palavras, esperavam, contudo, um Ente que havia de ser idealmente perfeito, na sua qualidade de Rei para governar, de Profeta para ensinar, e de Sacerdote para reconciliar; que havia de ser homem, e mais do que homem, pois seria Ele mesmo Deus; e que havia de sofrer até á morte, reinando, contudo, para sempre na Glória.

5- Profecia e profetas do Novo Testamento:

Houve uma pausa: por espaço de trezentos anos não tinha Deus falado aos homens. Mas no fim desse tempo, João, filho de Zacarias, cognominado o Batista, que foi “profeta”, e “mais de que profeta” (Mt 11.9), apareceu, revelando às multidões a vontade de Deus a respeito delas, e dizendo-lhes que estava chegado o tempo em que as profecias sobre a vinda do Libertador deviam ser cumpridas. E chegou esse tempo do Profeta ideal, em quem tiveram realização, no maior grau. as palavras de Moisés (Dt 18.18; At 3.22), revelando Ele nos Seus atos e palavras o Espírito do Pai celestial. E compreende-se que a atividade profética não tivesse a sua paragem em Jesus Cristo, continuando duma maneira nova, depois que o Espírito Santo foi derramado no dia de Pentecoste. Então, as palavras de Joel receberam parte do seu cumprimento: “vossos filhos e as vossas filhas profetizarão” (Jl 2.28; At 2.17); e mais uma vez se acostumaram os crentes a ouvir os profetas, que se lhes dirigiam em nome do Se­nhor. Entre estes são mencionados: Ágabo e outros, vindos de Jerusalém (At 11.27,28; 21.10); profetas em Antioquia (At 13.1); Judas e Silas (At 15.32); as quatro filhas de Filipe, o evangelista (At 21.9). S. Paulo também se refere a profetas cristãos em 1 Co 12.28 e seguintes: 14.29,32,37; Ef 3.5 e 4.11, compreendendo nós, por essas passagens, que esses obreiros, tomando parte proeminente nas reuniões cristãs, nos cultos, eram algumas vezes inclinados a pensar que não podiam restringir o ímpeto da fala. O autor do Apocalipse também se refere freqüentes vezes aos profetas cristãos, que são considerados como seus irmãos (Ap 22.9; vede também 10.7; 11.10-18; 16.6; 18.20-24; 22.6).
Fonte: D. Bíblico Universal

sábado, 7 de julho de 2012

O QUE VEM PRIMEIRO: A ESCRITURA OU A PALAVRA?

Não é de estranhar que o pai da fé, Abraão, tenha vivido pela fé na Palavra antes de haver Escritura, mostrando-nos, assim, que a Palavra precede a Escritura. 

A fé vem pelo ouvir-escutar-crer-render-se à Palavra. 

E a pregação só é Palavra se o Espírito estiver soprando. 

Do contrário, é só prega-ação! 

E a pregação que não é Palavra é apenas estudo bíblico, podendo gerar mais doença que libertação. 

A grande tentação é fazer a Escritura se passar por Palavra. 

As Escrituras se iluminam como a Palavra somente quando aquele que a busca tem como motivação o encontro com a Palavra de Deus. 

Ou, então, quando o Deus da Palavra fala antes ao coração! 

A Bíblia é o Livro. 

A Escritura é o Texto. 

A Palavra É!  E é Revelação!

Jesus é o Verbo Encarnado!

É o Espírito quem revela Jesus como a Palavra e a Palavra em Jesus.


Caio

terça-feira, 3 de julho de 2012

Meu direito de ser triste


(Esther Carrenho - cristianismohoje.com.br)
Tentamos fugir da tristeza porque ela traz dor e desconforto. No entanto, há também beleza e crescimento no caminho da dor.
Pego emprestado o titulo de um artigo do psiquiatra infantil, Oswaldo Di Loretto para falar do quanto tendemos a fugir das tristezas que são naturais no decorrer da vida. Nos tempos bíblicos do Antigo Testamento, o pranto fazia parte da cultura israelita. Era comum as pessoas aparecerem em público vestidas com panos de saco e com cinzas sobre a cabeça, como sinal de uma tristeza profunda decorrente do luto ou de um drama humanamente sem solução. Todos respeitavam a atitude, e muitos eram solidários ou se identificavam com o sofredor. Ou seja, havia um espaço na vida das pessoas para se entristecer e aceitar a tristeza do outro.
O tempo passou, alguns hábitos foram extintos e novas posturas ganharam espaço. Hoje, vivemos uma época em que a tristeza é vista como um mal que deve ser evitado a todo e qualquer custo. Isso fica claro quando não queremos contar a verdade sobre um diagnóstico de doença terminal e usamos argumentos paliativos em relação ao doente, ou quando oferecemos calmantes a alguém antes de contar da morte de um amigo ou parente próximo. Em muitos cultos religiosos, os fiéis são até estimulados a jogar a tristeza fora, como se o abatimento e a angústia fossem sentimentos prejudiciais e não aceitos por Deus.
E o problema começa bem cedo. As crianças não têm a permissão para ficarem tristes. Os pais sempre dão um jeito de arrumar algum entretenimento para o pequeno que quebrou o brinquedo favorito ou perdeu o bichinho de estimação; rapidamente, o filho choroso é contemplado com um novo brinquedo ou outro animal, sem ter tempo para internalizar o sofrimento e amadurecer diante da dor da perda. Pior ainda é quando se oferece um chocolate ou bala para a criança entristecida, como que querendo “adoçar” algo que deve ser vivenciado, e não camuflado. No caso dos adultos, é grande o arsenal de drogas medicamentosas que têm a capacidade de amenizar e bloquear a tristeza, promovendo uma alegria mecanizada e sem contentamento. Em nossa sociedade, toda manifestação de tristeza é vista como um tipo de depressão que precisa ser medicada.
Esquecemo-nos, contudo, que quem não consegue vivenciar a tristeza em toda sua profundidade também não conseguirá sentir a alegria em toda sua intensidade. Engana-se quem pensa que só a alegria expressa satisfação e contentamento na vida. É possível experimentarmos a tristeza, mesmo que intensa, e ainda assim revelarmos um coração satisfeito e contente, produzindo tesouros para nós mesmos e para os outros. “A poesia nasce da tristeza”, diz Rubem Alves.
Todos, mais cedo ou mais tarde, passaremos por tristezas. Algumas serão leves e passageiras; outras, profundas, como as perdas trágicas e inesperadas. Outros carregarão sempre uma história de privação e desamparo. Porém, podemos reconhecer as dores vividas e encontrar, no lamento – às vezes, milagrosamente –, cicatrização das feridas. Claro, tentamos fugir da tristeza porque é um sentimento que traz dor e desconforto. No entanto, há também beleza e crescimento no caminho da dor. A compaixão, a misericórdia, a ternura e o amor são desenvolvidos com muito mais profundidade por aqueles que se abrem e corajosamente vão até o fim no processo de se entregar às situações de profunda tristeza, estejam elas presentes ou circunscritas ao passado.
Salomão, rei de Israel nos tempos bíblicos e tido como um homem extremamente sábio, descobriu essa realidade. São dele as palavras: “A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração”. Cristo, por sua vez, experimentou o pranto publicamente, quando chorou a morte de seu amigo Lázaro. A caminho do Calvário, o Filho de Deus entristeceu-se profundamente diante da perspectiva de tamanho sofrimento. Em outras ocasiões, contudo, ele foi a festas e alegrou-se com seus discípulos. Então, podemos concluir que tanto a tristeza quanto a alegria são sentimentos que fazem parte do ser gente.
Quem conhece a tristeza no próprio ser sabe acolher as pessoas que passam pela dor. Gente assim consegue aceitar, respeitar e criar espaços para que aqueles que derramam lágrimas de tristeza, seja lá qual for a razão, possam se vestir de “saco e cinzas”, sem censura.