(fonte: http://www.vivos.com.br/169.htm)
1- Profecia e Profeta:
A palavra profecia (oráculo):
em Pv 30.1 segundo algumas versões, representa a palavra hebraica massa,
que propriamente significa “oráculo”; e o nome profeta, em Is
30.10, representa a palavra hebraica chozeh, que propriamente
significa “vidente”, e refere-se àqueles que vêem visões. Mas sempre, em
qualquer outro lugar no A.T., a “profecia” é a tradução de nebu’a; e
“profeta” a de nabi. Não é certa a significação original da raiz (NB).
A raiz (NB) significa ferver em cachão, e nabi, portanto, supõe-se
querer dizer aquele que ferve com a inspiração ou com a mensagem
divina. Todavia, é mais provável que nabi esteja em conexão com uma
raiz assíria ou árabe, que significa proferir, anunciar uma mensagem. Neste
caso o nabi é considerado o orador, a quem foi confiada uma missão.
Isto está em conformidade como que se lê em Ëx 7.1: “Então disse o Senhor a
Moisés: Vê que te constituí como deus sobre Faraó, e Arão, teu irmão, será
teu profeta.” Por isso é provável que o nome “profeta”, como é empregado na
Bíblia, signifique aquele que fala como acreditado mensageiro do Altíssimo
Deus. Deve-se observar que no termo, de que se trata, não há coisa alguma
que implique previsão de acontecimentos. Pode um profeta predizer, ou não, o
futuro segundo a mensagem que Deus lhe der. Deste modo a palavra grega
prophetes, que se acha na versão dos Setenta, e no N.T., significa
aquele que “expõe, fala sobre certo assunto”. Os substantivos abstratos
nebu’a e propheteie (“profecia”) têm uma significação
correspondente.
2- O estado dos profetas ao
receberem a sua mensagem.
E importantíssima ter uma noção certa das condições
espirituais do profeta, afim de que possamos penetrar os segredos da
comunicação do homem com Deus. A concepção pagã da profecia era a de uma
condição absolutamente passiva no profeta, de modo que, quanto mais
inconsciente se mostrava, mais apto estava para receber a mensagem divina.
Alguma coisa deste gênero se pode ver na histeria do povo israelita. Aquelas
danças sagradas dos profetas de Baal, durante as quais eles batiam em si
furiosamente, cortando-se com canivetes, para que pudessem receber um sinal
visível de aprovação divina, eram, na realidade, uma manifestação típica (1
Rs 18.26 a 28); e é provável que em tempos posteriores os falsos profetas
tomassem disposições semelhantes, com o fim de provocarem em si próprios o
estado de êxtase para as suas arengas. Mas a idéia pagã de profecia se
apresenta dum modo muito claro em Balaão. A sua vontade e os seus próprios
pensamentos são vencidos pela inspiração divina, proclamando ele a mensagem
celestial, contrariamente aos seus particulares desejos (Nm 22 a 24).
No tempo de Samuel já se vê o principio de melhor sistema. Ele reunia em
comunidades aqueles que parecia terem dons especiais da profecia,
disciplinando-os, ensinando-lhes a música, e, segundo parece,
ministrando-lhes conhecimentos da história e religião, para que pudessem
estar nas melhores condições de receber as palavras de Deus (1 Sm 10.10 a
13; 19.18 a 20). A respeito da música pode-se compreender que era para
aquietar a alma, e prepará-la para as comunicações com Deus (1 Sm 16. 14 a
23; 2 Rs 3.15). Quanto a serem estas escritas ou não pelo profeta, isso
dependia do caráter particular de cada alocução.
Essas profecias, devemos dizê-lo, são inteiramente apostas ás produzidas no
estado de mero êxtase. São escritas com grande escolha de palavras e frases,
revelando a vida anterior dos profetas, os seus interesses e ocupações, e
apresentando em vários graus a cultura e as circunstâncias do tempo em que
cada profecia foi revelada. As profecias de Amós. de Miquéias, de Isaias, e
de Jeremias, por exemplo, estão muito longe das de Balaão, tanto na visão
espiritual como nos conscientes pensamentos e deliberado estudo. Os profetas
tinham aprendido que Deus Se servia das próprias faculdades e aptidões deles
como instrumento das Suas revelações.
Na verdade, querendo formar a mais alta concepção do estado do profeta, na
recepção das comunicações divinas, temos esse ideal em Jesus Cristo, que
estava em comunhão com o Seu Pai, e anunciava aos homens o que dele ouvia
(Jo 8.26 a 40; 15.15; 17.8). Em Jesus não havia o estado de êxtase,
mas manifestava-se uma clara comunicação espiritual, tendo a Sua alma um
grandioso poder receptivo e ativo. Na proporção em que os profetas
alcançavam este dom maravilhoso de profecia, podiam eles receber e
transmitir perfeitamente a mensagem divina.
3- A função dos profetas.
Examinando as suas palavras num sentido mais lato, e tomando no seu todo a
obra dos profetas, observamos que uma das suas mais importantes funções era
a interpretação dos fatos passados e presentes. Estudando eles os
acontecimentos na presença de Deus, puderam vê-los na sua luz divina, e
compreendê-los assim no seu verdadeiro aspecto e significação. Por isso os
profetas não eram, realmente, historiadores (como o escritor dos livros dos
Reis), mas foram algumas vezes políticos ativos bem como diretores
religiosos. Entre estes podemos admitir não somente Isaias e
Jeremias, mas também Eliseu, visto como este mandou um dos filhos dos
proetas ungir Jeú. efetuando deste modo a destruição da dinastia de Onri,
culpada de prestar culto a Baal (2 Rs 9). Além disso, o fato de eles
perceberem a significação dos acontecimentos passados e presentes,
habilitava-os a conhecer os resultados da vida pessoal e nacional, e a
proclamar princípios que tinham um alcance muito mais largo, de muito maior
extensão, do que o que eles podiam imaginar. E, deste modo, quando as mesmas
forças operavam em tempos e lugares muitíssimo distantes dos contemplados
pelos próprios profetas, as suas palavras de aviso e conforto achavam
cumprimento, não talvez uma vez somente, mas em diversas ocasiões. E a este
poder, inerente a uma previsão verdadeiramente inspirada, que São Pedro
provavelmente se refere, quando escreveu (2 Pe 1.20): “nenhuma profecia da
Escritura é de particular elucidação”, querendo dizer que o seu significado
e referência não devem limitar-se a qualquer acontecimento no tempo.
4- O valor das profecias:
a) Os sacerdotes tratavam de coisas rituais, ou melhor, das orações
litúrgicas e dos cânticos sagrados. Nos profetas havia vistas mais largas, e
uma realização mais completa da vontade de Deus na vida diária, tanto
particular como nacional. Se quisermos, talvez, dizer em poucas palavras
qual o efeito dos ensinamentos dos profetas sobre os seus contemporâneos,
quer se trate de pessoas, quer de nações, afirmaremos que eras esperança o
forte sentimento que consolava a alma israelita, apesar dum passado manchado
pelo pecado, e dum presente sob a ameaça do castigo. Todavia, superior a
tudo, estava Deus realizando o Seu plano de misericórdia e bênçãos. Nenhuma
religião, fora do Judaísmo, podia mostrar nos seus ensinamentos tais
princípios de consoladora expectativa. E eis aqui um dos grandes segredos
que explicam o grande êxito que só a religião de Israel alcançou.
b) Se os contemporâneos dos profetas muito ganharam, ou estiveram na
situação de ganhar com a obra dos profetas, maior proveito disso devemos nos
ainda tirar. Porquanto estamos agora preparados para ver bem o efeito das
suas doutrinas e predições, e considerar as verdades eternas, em que eles
depositavam completa confiança. Dum modo particular, certamente, podemos
apreciar até certo grau as suas exposições acerca do grande Personagem, por
meio do qual havia de vir a redenção de Israel. Não é o nosso fim neste
artigo enumerar as várias profecias com relação a Cristo. A maioria delas é
bem conhecida. Basta dizer-se que, embora os profetas não alcançassem bem o
inteiro sentido das suas próprias palavras, esperavam, contudo, um Ente que
havia de ser idealmente perfeito, na sua qualidade de Rei para governar, de
Profeta para ensinar, e de Sacerdote para reconciliar; que havia de ser
homem, e mais do que homem, pois seria Ele mesmo Deus; e que havia de sofrer
até á morte, reinando, contudo, para sempre na Glória.
5- Profecia
e profetas do Novo Testamento:
Houve uma pausa: por espaço de trezentos anos não tinha Deus falado aos
homens. Mas no fim desse tempo, João, filho de Zacarias, cognominado o
Batista, que foi “profeta”, e “mais de que profeta” (Mt 11.9), apareceu,
revelando às multidões a vontade de Deus a respeito delas, e dizendo-lhes
que estava chegado o tempo em que as profecias sobre a vinda do Libertador
deviam ser cumpridas. E chegou esse tempo do Profeta ideal, em quem tiveram
realização, no maior grau. as palavras de Moisés (Dt 18.18; At 3.22),
revelando Ele nos Seus atos e palavras o Espírito do Pai celestial. E
compreende-se que a atividade profética não tivesse a sua paragem em Jesus
Cristo, continuando duma maneira nova, depois que o Espírito Santo foi
derramado no dia de Pentecoste. Então, as palavras de Joel receberam parte
do seu cumprimento: “vossos filhos e as vossas filhas profetizarão” (Jl
2.28; At 2.17); e mais uma vez se acostumaram os crentes a ouvir os
profetas, que se lhes dirigiam em nome do Senhor. Entre estes são
mencionados: Ágabo e outros, vindos de Jerusalém (At 11.27,28; 21.10);
profetas em Antioquia (At 13.1); Judas e Silas (At 15.32); as quatro filhas
de Filipe, o evangelista (At 21.9). S. Paulo também se refere a profetas
cristãos em 1 Co 12.28 e seguintes: 14.29,32,37; Ef 3.5 e 4.11,
compreendendo nós, por essas passagens, que esses obreiros, tomando parte
proeminente nas reuniões cristãs, nos cultos, eram algumas vezes inclinados
a pensar que não podiam restringir o ímpeto da fala. O autor do Apocalipse
também se refere freqüentes vezes aos profetas cristãos, que são
considerados como seus irmãos (Ap 22.9; vede também 10.7; 11.10-18; 16.6;
18.20-24; 22.6).
Fonte: D. Bíblico Universal